O presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, expressou nesta terça-feira (24 de setembro de 2024) sua visão de que o mercado financeiro está reagindo de forma “exagerada” aos preços da curva longa de juros. Ele destacou que essa ocorrência está ligada a uma percepção de segurança na transparência e na qualidade dos dados relacionados à política fiscal do país.
Campos Neto enfatizou a necessidade de o Banco Central monitorar o desempenho dos ativos e analisar o cenário de incerteza entre os agentes financeiros em um “horizonte um pouco mais longo”. Ele sugeriu que o movimento atual pode ser apenas um “ruído de curto prazo”, o que não reflete a realidade econômica de forma precisa.
O presidente do BC revelou que a compreensão do mercado não se limita apenas à trajetória da dívida pública, mas também à transparência dos números fiscais. Ele observou que há um aumento do prêmio de risco associado a essa falta de clareza, ou que tem impactado os preços da curva longa de juros no Brasil.
Campos Neto também previu uma desaceleração nos gastos públicos no futuro. Ele permitiu que momentos de “choques positivos no fiscal”, como a aprovação do teto de gastos em 2016, a reforma da Previdência em 2019 e o marco fiscal em 2023, coincidiram com a possibilidade de cortes na taxa básica de juros, a Selic.
Durante sua participação no evento J.Safra Brazil Conference 2024, em São Paulo, Campos Neto comentou sobre a inflação no Brasil. Ele destacou que, apesar de um nível de deflação de 0,02% em agosto, o Banco Central continua atento a um “quadro mais completo” e aos riscos potenciais, especialmente considerando o crescimento econômico acima do esperado e a deficiência de mão de obra.
O presidente do BC também abordou a situação econômica dos Estados Unidos, mencionando o recente corte de juros pelo Federal Reserve, o primeiro em mais de quatro anos. Ele expressou preocupação com uma possível desaceleração econômica nos EUA, embora tenha notado que os dados não indicam uma desaceleração “muito forte”.
Campos Neto destacou um estudo do The Wall Street Journal que analisa as propostas fiscais de Donald Trump e Kamala Harris, ambas prevenindo um aumento significativo nos gastos públicos. Ele alertou que não há sinais de redução do déficit fiscal nos EUA, o que pode ter implicações para a inflação global.
Por fim, Campos Neto ressaltou que a situação fiscal não é um problema exclusivo do Brasil, mas uma questão global. Ele observou que alguns países estão gerando superávits primários suficientes para cobrir os custos da pandemia, como as dívidas dos EUA, Europa, China e Japão representando dois terços do estoque mundial.